25/03/2019 às 19h34min - Atualizada em 25/03/2019 às 19h34min

Casal de S.Bárbara fará 70 anos de casados esta semana

Amélia e José se conheceram num sítio em Pernambuco. Família hoje está na 5ª geração

André Luis Cia
Beto Silva
A história de amor deles poderia perfeitamente figurar em um folhetim clássico daqueles que inspiram um filme com todos os ingredientes para nenhum cinéfilo botar defeito, mas trata-se de uma história da vida real, permeada por muito amor, entrega, cumplicidade e companheirismo. Prestes a completar 70 anos de casados (Bodas de Vinho), nesta quarta-feira (27), Amélia (86) e José João da Silva (92), entram para um seleto grupo de casais no mundo que conseguiram comemorar com saúde e muita união, a data tão especial e simbólica. Pernambucanos, desembarcaram em São Paulo há mais de 40 anos, e ao longo das últimas sete décadas, a família só cresceu. Hoje, já está na  geração, e contam com 14 filhos, 30 netos, 29 bisnetos e dois tataranetos, até o momento.  
Para celebrar este momento tão importante de suas vidas, os Silvas participarão no próximo sábado (30), de uma missa em ação de graças em Santa Bárbara d´Oeste -onde residem atualmente-, seguida de um jantar com a maioria do clã- alguns netos pela distância não poderão estar presentes-. Dona Amélia, como não poderia deixar de ser, está ansiosa e emocionada pela proximidade da data, principalmente com os preparativos da cerimônia. Segundo ela, o sentimento é o mesmo de quando se casou pela primeira vez. No entanto, com o diferencial de que agora terá o fruto, ou melhor, os frutos dessa relação todos presentes. “É maravilhoso saber que do nosso amor brotaram sementes tão valiosas, como nossos filhos, e que eles fizeram a nossa família crescer e se tornar tão linda como ela é ”.
O vestido da cerimônia, assim como o terno de José já estão separados, e foram escolhidos com muito cuidado. Ela diz que o vestido será em tons goiaba claro e também é mais curto do que o modelo tradicional de um vestido de noiva, mas garante que é "lindo",  Ainda falta escolher a camisa de José para combinar com o terno dele, mas ela crê que, até o meio da semana, isso já estará resolvido . Amélia diz que apesar de não usar um vestido de noivas, como no passado, o modelo que irá vestir, desta vez, tem por trás todo um simbolismo e magia que o tornam único e tão especial quanto o primeiro. “Nunca imaginei que pudéssemos chegar tão longe, mas se Deus nos trouxe até aqui é porque ainda temos uma missão conjunta para cumprir nessa Terra”, diz.
Questionada qual seria seu maior sonho ou até mesmo o sonho que o casal ainda não conseguiu realizar, dona Amélia confessa que  quando toca nesse assunto os filhos não aprovam porque remete à tristeza. “Sei que é algo triste de se pensar, mas se tivesse que pedir algo para Deus eu pediria que ele nos levasse dessa vida no mesmo dia porque não queria que minha família sofresse duas vezes. Se ficamos juntos até agora, que a vida também se encarregue de nos levar ao mesmo tempo”, diz.  
De sonhos do casal já realizados, ela diz que ficou muito feliz pelos filhos terem proporcionado ao marido a concretização de um dos seus maiores desejos: o de andar de avião. Porém, especificamente, deste sonho ela não pôde participar porque sempre  sentiu medo. “Mas fiquei feliz porque ele pôde voltar para nosso Pernambuco dentro de um avião, e se ele estava feliz, eu também estava. Um sempre apoiou ou esteve do lado do outro até mesmo nos sonhos”, descreveu .  



Dona Amélia destaca que José sempre fez questão de demonstrar seu amor por ela e isso ficou bem claro no nascimento de cada um dos seus filhos. Ela conta que mesmo durante a dieta dos filhos, no pós-parto, ele nunca aceitou dormiu em outro quarto, aliás, nos últimos 70 anos nunca se separaram, exceto durante sua viagem para Pernambuco, ou por algum motivo de internação. “Daí não teve jeito, mas tenho certeza que tanto ele como eu sentimos muita falta um do outro porque a gente sempre esteve juntos”, revela.   
Atualmente, o casal mora sozinho em uma casa em Santa Bárbara d´Oeste, mas ela diz que isso acontece apenas na teoria, já que cada dia da semana eles têm a companhia de um dos filhos que vão até à residência deles lhes fazer companhia. “Eles (filhos) são muito preocupados com a gente e nunca nos deixam sozinhos. O amor deles pea gente nos alimenta e nos dá força para prosseguir vivendo ”.   
A única preocupação de Amélia é com a rotina atribulada que José insiste em manter apesar da idade, e isso inclui cuidar da roça de milho, quiabo, feijão e das galinhas num sítio onde mora uma de suas filhas. Para chegar até lá, ele pega três ônibus, mas nunca deixa de ir porque essa é uma de suas alegrias nessa vida. “ Essa é a vida dele. Não podemos tirar essa alegria que ele tem de viver e de se sentir vivo. Ele (José) tem muita disposição. Até pouco tempo atrás ele subia no telhado para consertar as telhas da casa ou mexer na caixa d´àgua”, recrimina a cuidadosa Amélia.  Talvez uma das razões que explique a boa saúde de José seja a alimentação saudável que ele mantém. Silva consome apenas frango criado em seu galinheiro e rejeita leite industrializado. Além disso, anda de bicicleta e gosta muito de viajar.
 
CASAL SE CONHECEU EM PERNAMBUCO 
Se hoje, muitos relacionamentos começam por um aplicativo (app), no passado, Amélia frisa que isso era algo totalmente impensável, pois as relações tinham que ser literalmente “cara a cara”, e na presença dos pais da noiva. “Era totalmente diferente do que vemos hoje. Antes de casar eu nunca peguei na mão do José. Na minha casa não havia sofá. Eram apenas bancos e cada um sentava de um lado, e mesmo assim, era bem longe um do outro. A gente namorava por olhares, sem toques”, relembra. 
O casal se conheceu num sítio, em Lajedo, interior do Pernambuco. Na época, ela tinha 16 anos, e ele, 22 anos. Namoraram por um ano e depois se casaram. Sempre muito trabalhador e prestativo, coube a José a construção da primeira moradia deles no mesmo sítio onde se conheceram. Onze meses depois de casados nasceu o primeiro de muitos outros herdeiros que viriam em seguida : Luiz (69).
Com o tempo, os filhos foram crescendo, formando suas novas famílias e tomando seus próprios rumos, principalmente com relação ao sonho de uma vida mais promissora naquele que prometia ser o Estado das grandes oportunidades: “São Paulo”. E foi assim, que ela e o marido também decidiram sair do Nordeste. “Na verdade, o que nos trouxe para cá foram os nossos filhos. O José sempre disse que a nossa maior riqueza são os filhos, a nossa família, e ele tinha toda razão”.
Aos 49 anos, o jornalista José Roberto Silva, o “Beto Silva”, como é mais conhecido pelos amigos, é um destes filhos. É o segundo mais jovem do casal.  Com a proximidade da Bodas de Vinho, ele não esconde sua alegria e agradecimento. “Fico imensamente feliz porque me sinto testemunha da existência do amor verdadeiro. Algumas pessoas falam que com o tempo de casamento as pessoas se acostumam umas às outras, mas no caso dos meus pais, não. Eles se amam e têm um vínculo inquebrável. Um ainda sente saudade do outro”.
Beto se recorda emocionado de um momento emocionante desta relação que aconteceu em 2015, num dos raros momentos de separação forçada, desta vez, por motivos de saúde. Ele conta que a mãe sofreu uma arritmia e ficou hospitalizada por 3 dias. “Eu precisei levar meu pai para vê-la no primeiro dia. Quando ele se aproximou dela, a demonstração de amor foi tão intensa que as enfermeiras que estavam cuidando dela na UTI choraram. E é legal saber que a comemoração desses 70 anos é o aniversário da nossa família, da minha grande e querida família”.
Amélia também se emociona ao falar dos filhos, e quando lhe informo que foi Beto quem sugeriu a entrevista, ela fica em silêncio por alguns instantes. Pergunto se ela quer dizer algo do filho, e ela diz que sim. “Amo todos os meus filhos de forma igual, mas esse eu nem sei o que dizer. È o único deles solteiro. Faz tudo pela gente, Ás vezes, eu me pergunto se ele não é um anjo que Deus colocou na minha vida e da minha família para nos iluminar mais ainda”.   
Diante de tantas coisas que viveram ao longo de 70 anos de vida em comum, tomei a liberdade de pedir para que dona Amélia resumisse, se possível, em apenas uma única palavra o segredo de tanta longevidade do casal. Ela pensou por alguns instantes, sorriu ao telefone, deu um longo suspiro e disse convicta: “Amizade”. Depois concluiu: ‘Primeiro, antes de amar uma pessoa temos que ser amigo dela. Dessa amizade e desse respeito, nasce o amor, e foi assim com a nossa história. Quando conheci o José me tornei sua amiga, mas pouco tempo depois sabia que ele seria o homem da minha vida, e não é que eu estava certa?”, finaliza.   
 
 
 
 
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