25/03/2019 às 12h49min - Atualizada em 25/03/2019 às 12h49min

Via Crucis entra na reta final de ensaios e vai para Usina S. Bárbara

Espetáculo completa 22 anos em 2019 e neste ano terá Claudia e Pilatos como narradores

André Luis Cia
Divulgação
Faltando menos de um mês para a estreia da temporada 2019, a 22ª edição do Espetáculo Via Crucis, entrou na reta final de preparação com o início dos ensaios no Novo Pátio da Usina Santa Bárbara. Apesar de manter a temática dos outros anos, o grande diferencial é que, a cada edição, eles inovam na forma de contar a mesma história. Neste ano, o espetáculo inicia-se pela coroação de Pôncio Pilatos, que passa a governar a Judeia, e recebe a visita de sua esposa, Claudia Prócola, que vem lhe contar sobre o sonho que teve com Jesus tentando evitar sua condenação. As apresentações acontecem de 17 a 21 de abril, às 20h, com entrada gratuita.
Segundo o diretor artístico, Otávio Delaneza, em entrevista ao Portal Atualidade, em 2018, os anjos ficaram responsáveis pela narrativa, mas em 2019, a narração caberá a outros personagens, no caso, Claudia e Pilatos. “A cada ano, buscamos um prisma diferente até mesmo para atrair aquele público que é cativo e que nos segue todos os anos. Então, sempre pensamos em algo inovador para que ele veja uma nova roupagem e não perca o interesse, pois sempre terá algo diferente para assistir”, justificou.
 A crucificação e a ressureição também serão realizadas em locais distintos do ano passado para favorecer a visão do público. Delaneza frisou que o início dos ensaios no espaço oficial do evento é ideal para acertar os últimos detalhes antes da estreia. “É o momento de readequar as cenas e coreografias, e de mudar o que precisa ser mudado”, disse.  Fora isso, o espaço é muito maior que o teatro. Então, podemos estudar as entradas e saídas dos personagens”.
Um dos pontos altos deste ano será mostrado logo no início com uma abertura grandiosa com a coroação de Pilatos por Tibério Cesar.
Coordenada pelo cenógrafo Kaê Payão, a equipe responsável pela montagem iniciou os trabalhos no começo deste mês e se concentra também na confecção de adereços, como a biga (carroça de duas rodas) romana, as bandeiras que serão hasteadas para simbolizar a entrada em Roma e o barco para a cena dos pescadores. 
Com uma visão privilegiada do palco, a arquibancada será mantida na mesma disposição de 2018 e, como nos anos anteriores, comportará um espaço voltado a cadeirantes, idosos e gestantes. 



TRAJETÓRIA DE SUCESSO
O ator e diretor Otávio Delaneza diz ter uma ligação muito forte com o Via Crucis. Nascido em Americana, mas criado em Santa Bárbara, começou ainda na infância a fazer teatro amador. Sua primeira participação no espetáculo foi como ator aos 16 anos. Atuou por outras duas temporadas como ator e depois saiu por causa de outros projetos, dentre eles, o aprimoramento nos estudos de artes. Tem curso técnico de ator, licenciatura em artes visuais e é pós- graduado em direção e artes da cena.
Delaneza retornou para o Via Crucis somente na 16ª edição já formado como ator e aceitou o convite para viver Satanás. “Nessa época, já tinha um olhar mais crítico e questionador e via o espetáculo com outros olhos”. Em 2013, foi convidado para assumir a direção do Via Crucis, o que lhe deixou muito feliz e orgulhoso. “Nestes seis anos como diretor, fico feliz por acompanhar a cada edição a transformação do projeto, que só cresce. São mais de 100 atores. O nosso desafio é muito grande, mas também gratificante. Eu tenho a chance de impor a minha visão dentro dessa história tão importante que é a de Jesus Cristo. Isso não tem preço. O meu interesse não é o de evangelizar as pessoas, mas sim, de mostrar esta história tão linda sob diferentes ângulos”. 
Delaneza explica que, assim como a maioria dos artistas, vive de inspiração, e que a própria vida lhe serve como fonte para esse processo criativo. “O conversar com as pessoas, o respirar, as diferentes encenações que vejo sobre o tema. Tudo isso serve como ferramenta para a construção de novas ideias que, aos poucos, vão se juntando até se transformarem em cenas.
O diretor argumenta que busca não fazer um espetáculo fechado, pelo contrário. Ele costuma sempre atualizá-lo e contextualizá-lo a partir de sua própria visão. “Na última edição fiz isso ao mostrar a descida de Jesus no séc XXI se deparando com um mundo em guerra em diferentes aspectos. Trago minha visão poética para o mundo atual”, disse Delaneza.


SONHO ALCANÇADO EM 2018
Na 21ª  edição, realizada em 2018, o Via Crucis conquistou um dos seus maiores objetivos: a mudança para a Usina Santa Bárbara depois de 20 anos sendo encenado no CSU (Centro Social Urbano). O prédio é considerado patrimônio histórico e importante marco para o desenvolvimento de Santa Bárbara. Com isso, tudo ganhou ainda mais grandiosidade dentro do espetáculo, como por exemplo, a construção de uma arquibancada nova de frente para o palco com 50 metros de extensão e oito metros de profundidade com capacidade para atender mais de 3 mil pessoas sentadas.
O novo espaço permitiu também inovar na cenografia com a construção de uma cidade capaz de transportar o público literalmente para dentro da história. O espetáculo deste ano foi orçado em R$ 450 mil. Todo recurso chega ao projeto por meio de leis de incentivo fiscal estadual (Proac) e federal (Rouanet). Com isso, as empresas podem destinar parte do seu imposto para projetos culturais e sociais., destinando 3 % do imposto devido ao Proac, e 4 % para a Lei Rouanet.
O espetáculo foi encenado pela primeira vez em 1998, no Centro Social Urbano, por iniciativa dos diretores de teatro Farid Zaine e Carlos Jerônimo Vieira.  Segundo a justificativa da comissão de produção, na época, a ideia surgiu diante dos inúmeros conflitos que a vida moderna apresentava. “Queríamos um projeto inovador, que fosse capaz de unir a população na mesma causa: o amor, o respeito e a esperança”.  
 A iniciativa despertou imediato interesse de grupos de teatro, estudantes e cidadãos comuns, que viram no espetáculo a possibilidade de se desenvolverem artisticamente. A chegada de um elenco tão diversificado trouxe contornos ecumênicos ao projeto. A encenação rapidamente ganhou respeito e admiração do público barbarense e foi atraindo também pessoas de outras regiões do estado e do Brasil. 
Hoje, o Espetáculo Via Crucis é uma realização do Ministério da Cultura, Governo do Estado de São Paulo, Prefeitura de Santa Bárbara d'Oeste e Via Cultura, com patrocínios e apoios de empresas da região. A encenação conta ainda com uma comissão de produção composta por artistas voluntários, responsáveis pela organização do evento.
Mais de 1 mil atores já passaram pela encenação ao longo das 21 edições realizadas. A média é de 150 integrantes por edição, incluindo novos e antigos membros.  Em 2018, o público total foi de 26, 750 mil pessoas. Em 2017, 37 mil, e em 2016, 29 mil pessoas.
Além da encenação, há ainda uma exposição itinerante "A Paixão em Cenas", que circula por diferentes pontos de SB nos meses que antecedem as apresentações, com fotos das edições anteriores da peça, registradas por fotógrafos da cidade. E pela terceira edição consecutiva, em 2018, o espetáculo realizou uma campanha para arrecadação voluntária de leite, arrecadando 218 litros que foram doados para o Fundo Social de Solidariedade da cidade. (ALC)
 
 
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