19/05/2020 às 14h01min - Atualizada em 19/05/2020 às 14h01min

Filho de Bolsonaro acusa professora de Americana de doutrinação na escola

Flavio Bolsonaro postou nas redes sociais um trecho da aula da professora gravado por pai de aluna

Redação
Reprodução

Uma aula online de português, ministrada por uma professora de um colégio particular de Americana, causou polêmica  nas redes sociais nos últimos dias. 
 

 

Durante a aula, a professora, que leciona no colégio há mais de 30 anos, propôs uma atividade aos alunos do 5° e 6° ano sobre interpretação de uma charge com a figura do presidente Jair Bolsonaro e o Coronavírus. 

 

Contudo, um pai de uma aluna que assistia a aula online gravou um trecho da aula e enviou ao senador Flavio Bolsonaro, que postou o vídeo em suas redes sociais no último sábado (16) acusando a professora e o colégio de “doutrinação em sala de aula” e pedindo para que os seus seguidores compartilhassem o post. 

 

No vídeo, a professora pergunta para a aluna “Mariana, eu quero que você mostre pra mim porque que o chargista desenhou ele tão pequenininho e o coronavírus bem grande. O Enrico falou, e tá parcialmente correto, que por enquanto não dá pra fazer nada contra o vírus a não ser a quarentena. Nós sabemos que nem a quarentena o Bolsonaro tem apoiado, aprovado. Então, meu amor, vamos pensar um pouquinho além disso. Porque será que ele está pequenininho? O que está acontecendo com ele politicamente? O que você sabe disso?” 

 

A aluna responde que o presidente está perdendo poder e o coronavírus ganhando e a professora continua a atividade. “Isso, ele está perdendo o poder político, não é verdade? Então, o corona está forte e ele, politicamente, como não soube enfrentar o coronavírus ele acabou perdendo poder político, não é? Ele usou armas erradas. Até o momento, nós podemos afirmar que ele está equivocado com relação à guerra contra o coronavírus”.

 

Até o início da tarde desta terça-feira (19), a postagem do senador já tinha 8,8 mil curtidas, 2,2 mil comentários e 4,9 mil compartilhamentos.

 

No Facebook, o filho da professora fez um post no modo público explicando a situação e dizendo que as medidas cabíveis serão tomadas: 

 

“Pessoal,

Minha mãe é professora de português e leciona no  colégio Antares, de Americana, há mais de 30 anos.

Uma das atividades que ela passa aos alunos, de quinto e sexto ano, é a interpretação de charges, onde as crianças são estimuladas a interpretar a mensagem que a ilustração passa. São interpretadas charges de diversos assuntos, e obviamente inclusive politica, que tende a ser o tema de maior interesse publico e mais presente nas páginas de jornais e revistas. 

Esse trabalho tem como único objetivo estimular a capacidade de interpretação das crianças e não tem a intenção de influenciar politicamente os alunos a esse ou aquele político/partido. 

Tal trabalho ocorre há vários anos, inclusive eu, que tive aulas com ela há mais de 20 anos no colégio Antares, lembro muito bem dessas atividades naquela época, onde charges com temas políticos do período eram discutidos da mesma forma. 

O que ocorre é que minha mãe está sendo vítima de uma exposição em redes sociais a nível nacional, que iniciou após um pai de aluno gravar  um trecho da aula online dela sem autorização prévia e divulgar nas redes sociais, insinuando  que ali houvesse uma doutrinação política. 

No vídeo ela simplesmente pergunta a uma criança a intenção do autor sobre uma charge que envolve o presidente Jair Bolsonaro e o corona vírus, temas amplamente abordados nos dias atuais.

Ontem o deputado Flávio Bolsonaro expôs de forma covarde o vídeo em suas redes sociais, gerando grande repercussão.

O nome disso é CENSURA e mostra os tempos sombrios que estamos vivendo.

Abre precedentes para que aulas de outros professores também sejam gravadas sem sua autorização, e censuradas, prejudicando os profissionais da educação, os alunos e a educação brasileira democrática. 

Por fim, consultamos especialistas da área e minha mãe está sendo vítima de crime digital.

As medidas cabíveis serão tomadas”.

 

O Portal Atualidade tentou contato com o colégio pelo telefone informado em seu site e redes sociais, mas a ligação não foi atendida. 


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