07/02/2020 às 21h04min - Atualizada em 07/02/2020 às 21h04min

Engenheiro de Campinas que mora na China conta como está a vida com a epidemia do coronavírus

Amanda Sabino
Arquivo pessoal
Ex-morador de Campinas, o engenheiro Vinicius Miranda de Pinho reside em Shenzhen, na China, desde janeiro de 2019 com a esposa e a filha de 6 anos. Ele contou com exclusividade ao Portal Atualidade como está sendo o cotidiano da família após a epidemia do coronavírus, bem como quais são as medidas que estão sendo adotadas no país após a descoberta do vírus que já matou centenas de chineses. Confira!

Portal Atualidade: Desde quando você está na China e em qual local você vive?
Vinícius: Eu, minha esposa Cibelle e minha filha Sophia, de 6 anos, viemos para a China em julho de 2018 e ficamos por 4 meses, voltamos em janeiro de 2019. Estamos morando e trabalhando em Shenzhen, uma cidade capitalista (ao lado de Hong Kong) que possui 25 milhões de habitantes e a economia voltada para alta tecnologia. Shenzhen é sede de empresas como Alibaba, Tencent (Wechat - equivalente ao WhatsApp), Amazon, Apple e IBM.
 
Portal Atualidade: Em relação ao coronavírus, como está a situação onde você vive?
Vinícius: Tem um portal, um aplicativo e um grupo que divulga informações oficiais do governo. Aqui em Shenzhen tem 149 homens, 165 mulheres e nenhuma criança com caso confirmado; mortos ainda não houve nenhum caso registrado.

Portal Atualidade: Essa epidemia do vírus na China mudou a sua rotina e a da sua família?
Vinícius: Claro! A cidade está parada, pois o vírus acabou se tornando mais forte no feriado chinês (que foi no dia 2 de fevereiro e o governo adiou o retorno ao trabalho para dia 9 de fevereiro). Desta forma, estou trabalhando em casa durante esses dias. Posso ir ao escritório, pois não é proibido ir trabalhar, mas, como as empresas estão fechadas, não faz sentido. Minha academia abriu normalmente esses dias, então estou indo normal. Minha filha está de férias na escola, mas as aulas delas foram adiadas até março. Enquanto isso ela tem aulas aqui em casa mesmo, comigo e com a mãe dela.
 
Portal Atualidade: Além da construção dos hospitais, há alguma outra medida sendo tomada no país para amenizar o problema?
Vinícius: Além dos dois hospitais sendo construídos, o que eu vi aqui foi um empenho sem precedentes por parte do governo, que distribuiu máscaras de graça em várias farmácias credenciadas (tem até um aplicativo que você pode agendar o horário para retirar a máscara), temos um centro comunitário para estrangeiros que ficou aberto todos os dias e eles me mandam mensagens no grupo com atualizações diárias da situação. Também foi criado uma hot-line com serviço médico e, caso alguém se sinta mal, não precisa sair de casa, o médico vem até a residência. O governo adiou a volta ao trabalho para conter a propagação do vírus, há caminhões lavando as ruas todos os dias com produtos químicos, todos os prédios foram orientados a medir temperatura de quem entra e quem sai (atividade exercida pelos porteiros), bem como se as pessoas estão usando máscara; no metrô e nos ônibus os funcionários medem a temperatura de todas as pessoas. A organização aqui em Shenzhen é impressionante e muito bem planejada, levando em conta que a cidade tem 11 linhas de metrô (300 km de linha de metrô, uma das maiores do mundo) e 25 milhões de habitantes. Quanto à vacina, ainda não temos noticia, mas eles estão estudando um método de identificar mais rápido a doença através de exame de sangue. O governo disse, ainda, que colocou 13 especialistas à disposição para estudar a doença.
 
Portal Atualidade: Desde que começou a epidemia, em algum momento você sentiu medo?
Vinícius: Não! Eu acompanho as notícias do Brasil pelo celular, mas as pessoas que estão fora da China fazem um julgamento errado da situação. Muitas pessoas do Brasil me mandam mensagem dizendo que era para voltar para o Brasil porque a situação aqui está muito complicada. Entretanto, aqui tudo está sendo monitorado de perto pelas autoridades e não há motivos para pânico. A doença existe, mas está sendo tratada com a devida seriedade.
  
Portal Atualidade: Você pensa em voltar para o Brasil em decorrência dessa situação?
Vinícius: Não! Em nenhum um momento pensamos em voltar para Brasil devido a isso. A situação, conforme já dito, está sob controle e não houve nenhum descaso das autoridades, pelo contrário. Temos um hospital a 2 km de casa que está com uma boa estrutura montada e podemos utilizá-lo a qualquer momento. Por isso, não faz sentido voltarmos ao Brasil, visto que estamos seguros aqui em casa e pegar um avião com pessoas que podem estar infectadas seria um cenário bem pior. Acho relevante, ainda, alertar as pessoas no Brasil de que muitas notícias que vimos circulando no WhatsApp são falsas, por exemplo aquela que mostra pessoas caídas nas ruas dizendo que o motivo é devido aos maus hábitos alimentares dos chineses. Isso não é verdade e as pessoas aqui têm hábitos tão comuns quanto qualquer brasileiro.
 

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