17/05/2017 às 11h25min - Atualizada em 17/05/2017 às 11h25min

A REVOLUÇÃO ABOLICIONISTA

Por: Antonio Alberto Gomes Figueiredo (Toninho)
ILUSTRATIVA

A Lei Áurea assinada em 13 de maio de 1888, conforme alguns historiadores, estudiosos do assunto, como Clóvis Moura, Robert Conrad, Jacob Gorender, Décio Saes, entre outros, não foi um gesto de benevolência da Princesa Isabel e do Império, ou das elites da época, mas sim resultado da ação estrutural das massas escravizadas, durante os três séculos de cativeiro que construiu as condições que ensejaram mais tarde, a destruição da escravidão.
 


Foi à reivindicação da liberdade civil que uniu a luta dos cativos rurais à dos cativos urbanos, criando um vigoroso movimento abolicionista, que incorporou setores democráticos e progressistas da época: como Luiz Gama, grande advogado da causa da liberdade; como Castro Alves, que escreve o poema “Navio Negreiro” – manifesto romântico contra a escravidão; como o Tenente-Coronel Sena Madureira, que homenageia o jangadeiro cearense Francisco Nascimento, o “Dragão do Mar”, que se negou a transportar escravos em Fortaleza, cidade onde tipógrafos negaram-se a imprimir qualquer impresso que defendesse a escravidão.
 
Pela primeira vez o povo brasileiro se uniu de norte a sul, em uma campanha articulada. Entre 1887 e início de 1888 as fugas de escravos se tornaram uma epidemia, as fazendas eram abandonadas em massa, muitas vezes apoiadas pelos abolicionistas radicais, que ajudavam a libertar escravos aprisionados e apoiavam as fugas montando toda uma infra-estrutura para garantir a chegada dos libertos a lugares seguros. Os abolicionistas radicais pagaram alto preço por suas ideias e ações. Antonio Bento foi perseguido, sua casa cercada e invadida pela polícia, muitos outros foram assassinados por capangas de fazendeiros escravistas.
 
Mas o movimento abolicionista abalou o próprio aparelho de Estado monárquico-escravista. Vários oficiais do exército passaram a se recusar a perseguir escravos fugidos, inclusive em outubro de 1887, o escravismo sofreu um duro golpe quando o marechal Deodoro da Fonseca, presidente do Clube Militar, solicitou que não se utilizasse o Exército na caçada de escravos fugitivos. Assim como juízes também começaram a dar sentenças favoráveis aos abolicionistas.
 
A data do 13 de maio é uma data que deve ser comemorada, não como tributo à família imperial brasileira, nem que a Abolição teria sido uma "coisa de branco", e sim, como tributo aos povos africanos trazidos na marra para o Brasil, e que de imediato não aceitam a condição de escravos e passam a organizar a resistência, nos quilombos, passando por muitas batalhas, com a morte de mártires, como Zumbi dos Palmares, entre tantos heróis, muitos anônimos.
 
Assim foi se formando uma ampla frente abolicionista envolvendo escravos, a pequena-burguesia, a burguesia industrial e o jovem proletariado. No dia da votação da Lei, uma multidão cercou o Parlamento Imperial, esperava curiosa pelo desfecho de uma luta iniciada há muito. Quando a notícia da aprovação chegou ao povo uma explosão de alegria percorreu as ruas das principais cidades brasileiras. Os sinos das igrejas repicaram, missas foram rezadas, as repartições públicas fecharam as portas. “Os tambores e atabaques ressoaram através do Brasil ferindo em derradeira vendeta os tímpanos dos negreiros derrotados”, e o país foi tomado por uma grande festa popular, como jamais se tinha visto.
 
A Revolução Abolicionista resulta da coragem de homens e mulheres, escravos e livres, que lutaram para a construção de um outro país, que garantisse a igualdade de todos os seres. Se este sonho não foi ainda plenamente realizado, a abolição foi um dos passos nesta jornada que apenas começará a chegar ao seu final com a conquista de plenos direitos para todo o povo, hoje tão abatidos pela política do ilegítimo governo brasileiro, que de alguma maneira volta a nos colocar na condição de semiescravidão, basta ver os desmontes provocados pelas “Reformas Trabalhista, Terceirização e da Previdência”, acompanhados de sugestões que mostram bem esse quadro, como: pagar ao camponês com casa e comida seu trabalho – a volta da senzala – ou que o operário não precisa mais que 15 minutos de almoço.
 
Precisamos todos rever a nossa história e construir uma ampla frente popular e democrática, que enterre definitivamente esses pensamentos e ações escravagistas, intolerantes, racistas, odiosas, desnacionalizantes, pois ao lado da retirada de nossos direitos, estão entregando as riquezas do nosso País. Em suma, derrotar os interesses da velha elite escravocrata, que carregam os mesmos objetivos na sua pauta à época da escravidão nos séculos passados, e hoje liderada por esse consorcio (setor financeiro, grandes empresas nacionais e internacionais, mídia e judiciário) e toda a camarilha de canalhas que escrutados no Poder Executivo e no Congresso Nacional, vendem as riquezas do Brasil a preço de banana, ao mesmo tempo que condenam à miséria toda a classe trabalhadora.
 
Assim, tirar do caminho da nossa Pátria esse projeto e os homens e instituições que o defendem, sejam quem forem, é a tarefa atual de todos os brasileiros e brasileiras, que se preocupam com o nosso País e com o futuro dos nossos filhos e netos, a exemplo do que foi a Revolução Abolicionista, e tantas outras lutas travadas pelo nosso povo.
Por: Antonio Alberto Gomes Figueiredo (Toninho)

 
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