15/02/2018 às 18h52min - Atualizada em 15/02/2018 às 18h52min

Primos resgataram vítimas do acidente de ônibus

Amanda Sabino
Gabriel e Igor: primos foram heróis por um dia e salvaram as vítimas do acidente de ônibus. Foto: Arquivo Pessoal


Não é novidade que, na vida real, "nem todo herói usa capa e tem superpoderes". Mas é necessário muita coragem e dedicação para ser um verdadeiro herói no dia-a-dia. E os primos Igor William Silva do Nascimento, empresário, 30 anos, e Gabriel Silva do Nascimento, 18, comprovaram isso, ao resgatarem as vítimas do acidente com o ônibus da Viação Princesa Tecelã (VPT) que estava com 15 passageiros, entre os quais uma grávida, e caiu no Córrego São Manoel, nas proximidades da Rodoviária de Americana, na última quarta-feira (14) em função das chuvas fortes e do alagamento do local. 

Entenda o caso: ÔNIBUS COM 15 PASSAGEIROS É ARRASTADO POR CHUVA E CAI EM CÓRREGO EM AMERICANA

O Portal Atualidade conversou com Igor e, ainda emocionado com as lembranças recentes, ele contou detalhadamente como foi o acidente que presenciou, o que aconteceu nos primeiros momentos antes da chegada do regate e da polícia, falou sobre o que sentiu e também o que jamais esquecerá daquele dia. Confira! 

 

Portal Atualidade: Conte como vocês chegaram ao local do acidente.

 Igor: Estava indo fazer um serviço e, devido às chuvas, teve que ser cancelado. Então, fui na minha empresa, que fica na Vila Bertine, peguei meus funcionários e fui leva-los embora. Deixei um no Jaguari e outro no São Manoel. Chegando na rua da enchente fui tentar passar com o carro, mas a água subiu rápido e o meu carro afogou. Aí eu e meu primo Gabriel e o Felipe, meu funcionário que estava conosco no carro, empurramos o carro para trás, numa parte da rua onde não tinha tanta água. E foi nesse momento que o meu primo viu o acidente e falou “Olha lá o ônibus tombando, Igor!” – e nós presenciamos aquela cena.  

Portal Atualidade: Qual era a situação quando vocês chegaram? 

 Igor: Era muita água e o córrego tinha transbordado. Na hora do acidente não tinha polícia, resgate nem nada. Eu, o Gabriel e o Felipe fomos os primeiros a chegar no local do acidente. O ônibus começou a afundar, vimos algumas meninas da ‘guardinha’ saindo pela janela e umas senhoras querendo subir pela janela e gritando Socorro! Pelo amor de Deus, tira a gente daqui!   

Portal Atualidade: O que você sentiu ao chegar no local?

 Igor: Muita adrenalina. Eu e meu primo corremos para perto do ônibus, cercados de água, e não hesitamos em nenhum momento tirar as pessoas de lá. Nossa vontade era ajudar aquelas pessoas. 

Portal Atualidade: Qual foi a primeira coisa que vocês fizeram?

 Igor: Eu fiquei tão cego para querer ajudar, ouvindo o povo gritando “Pelo amor de Deus, me tira daqui! Me socorre!”, que a primeira coisa que eu fiz foi tentar pular no ônibus. Só que quando eu pulei no ônibus eu não consegui me segurar nele e caí na vala, dentro do córrego e afundei. Aí meu primo me puxou de volta para cima, porque eu estava afundando cada vez mais. 

Portal Atualidade: Como vocês resgataram as vítimas?

 Igor: As pessoas gritavam o tempo todo por ajuda, então eu e meu primo, Gabriel, tivemos a ideia de ficar atrás da vala, pra fora do córrego e pedir para as pessoas que estavam em cima do ônibus pularem do ônibus até a beira do córrego, onde a gente estava. Porque se eles fossem andar do ônibus até a gente eles afundariam na valeta funda, que era o espaço entre a parede do córrego e o ônibus, onde eu caí. A gente falava “Pula pro lado de cá que a gente pega vocês”. Tinha umas senhoras, umas meninas com uniforme do SOMA e elas pulavam e eu e o Gabriel pegávamos ela do lado de cá e levava elas lá na calçada, na rua de cima, onde estava seguro e não tinha mais água. Pegamos um por um e fizemos isso.   

Portal Atualidade: Como foi o resgate da grávida?

 Igor: A moça grávida estava mais na frente do ônibus e tinha um rapaz magro ao lado dela tentando ajudar, porque ela já estava desacordada. Ele estava tentando quebrar o vidro para tirá-la do ônibus, mas não conseguia. Então, ele subia pra fora d’água, pegava o ar com a boca dele e entrava na água, onde ela estava, e soltava o ar na boca dela para tentar fazer ela respirar. E ele continuou fazendo isso várias vezes enquanto tentava, ao mesmo tempo, quebrar o vidro. Até que ele conseguiu quebrar e tirou ela, desacordada, já meio roxa. Eu e meu primo fomos mais perto deles e o Gabriel falou “Joga essa mulher pra cá pra gente pegar ela”. O rapaz estava com medo de jogá-la desmaiada e ela afundar, aí eu falei pra ele “Joga cara, joga ela pra cá que a gente pega”. Ele jogou ela, eu e meu primo conseguimos segurá-la, erguemos o rosto dela e fomos levando ela pro local seguro, onde os outros estavam. Na metade do caminho ela começou a abrir o olho e tremer muito. Eu acho que ela não sabia onde ela estava. Quando a gente estava chegando com ela do outro lado da rua, onde não tinha água, a ambulância estava chegando e o Gabriel correu atrás da ambulância e avisou o motorista que ela estava grávida para ele dar prioridade para ela. Eles já foram abrindo a porta e nós colocamos a grávida na ambulância e eles levaram ela direto para o hospital.       

Portal Atualidade: Quantas vítimas você resgatou?

 Igor: Eu não contei quantas pessoas nós pegamos, para falar a verdade. Mas foi praticamente todo mundo que estava dentro do ônibus. O cara que estava junto com a grávida também ajudou bastante no resgate.  

Portal Atualidade: Foi difícil esse resgate?

 Igor: Foi muito difícil, pois eu nunca fiz isso na minha vida. Fiquei chocado, sem pensar muito e eu só queria ajudar as pessoas que gritavam enquanto o ônibus afundava. Nossa, foi inexplicável. 

Portal Atualidade: O que você sentiu após cumprir toda a sua “missão” naquele momento?

 Igor: Eu senti algo que não sei explicar. Eu e meu primo começamos a conversar quando estávamos vindo embora, a gente sentiu uma coisa boa por ter ajudado. Eu acho que se meu carro não tivesse morrido lá na hora, se a gente não tivesse aparecido naquele momento do acidente e meu primo visto o ônibus tombar e começar a afundar, que eu não vi, eu acho que ia acontecer uma tragédia, principalmente com a grávida e as pessoas de idade que estavam desesperadas. Não sei o que teria acontecido se a gente não estivesse lá.    

Portal Atualidade: O que você jamais vai esquecer desse dia?

 Igor: Não vou esquecer de tudo, de todos os momentos. Foi algo que nunca vi na minha vida. Acho que nunca mais vou esquecer isso.


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