09/09/2017 às 14h36min - Atualizada em 09/09/2017 às 14h36min

Conselho da Mulher divulga nota de repudio sobre femenicídio em S.Bárbara

Fernanda Nastrini
Redação
Diante dos dois feminicídios registrados em Santa Bárbara d’ Oeste em menos de uma semana, o Conselho Municipal de Proteção e Defesa dos Direitos da Mulher se manifestou em nota de repúdio, divulgada na última sexta-feira (08). A manifestação é assinada pela presidente da entidade Yone da Silva. 

Na noite de domingo, dia 03, Bruna Rodrigues Gusmão Dessordi, de 19 anos, moradora no Jardim Augusto Cavalheiros, foi morta a facadas pelo ex-namorado Anderson Santana de Souza, 25, que após cometer o crime se entregou a polícia. O casal havia se conhecido há três semanas pela rede social Facebook.

Já na madrugada desta última sexta-feira (08), a balconista Lorena Aparecida dos Reis Pessoa, 29, foi assassinada a tiros pelo cabo da Polícia Militar, Carlos Ribeiro, de 36 anos com quem mantinha um relacionamento. O crime aconteceu após uma discussão entre o casal.

Confira a nota na íntegra:

“Assassinadas por parceiros ou por ex, por amigos ou familiares, estupradas, mortas, empaladas, humilhadas, espancadas, mutiladas, negligenciadas, subjugadas, violentadas e finalmente mortas por instituições públicas e de forma invisível.

Milhares de mulheres morrerem de forma bárbara todos os dias em nosso país e agora em nossa cidade”. 

“Percebemos que apesar da indignação, dos atos e das mobilizações através de diversos meios de comunicação, o feminicídio não surge como uma necessidade urgente, gritante como uma realidade intolerável para o Estado e nem para nós, a parte da sociedade que muitas vezes permite que exista a “tolerância social” a diversas, variáveis formas de violência contra nós mulheres. Tudo parece existir de forma natural.”

“Em menos de duas semanas duas mulheres foram brutalmente mortas por seus companheiros ou supostos, há 15 dias ou mais, uma mulher foi gravemente espancada e suas fotos divulgadas via grupos em redes sociais, outra violência bárbara que só poderia ter sido divulgado por outra pessoa sem o mínimo sentimento de solidariedade, compaixão ou dever de cidadão de não propagar um ato tão bárbaro”.

E novamente essa mulher passou por mais uma forma de violência na cidade de Santa Bárbara d´Oeste, interior do Estado de São Paulo. O que justificaria mais de 50 facadas numa jovem de 19 anos? Foi desta forma que Bruna Rodrigues Dessordi perdeu a vida na última semana. Com 6 tiros, um no rosto segundo informações extra – oficial foi que recebeu outra jovem de 29 anos Lorena dos Reis Pessoa, morta por um PM ou seja, por quem também deveria nos proteger.”

“Há homens que acham que “podem” matar a mulher porque deliram muitas vezes que estão sendo traídos e se está, nada justifica o crime contra a vida e é errado pensar que ela foi mesmo a grande culpada pela própria morte por ter sido infiel. O tão comentado sentimento de posse que uma grande parte dos homens possui quando chega no final da tragédia muitas vezes anunciadas.”

“Culpar a vítima ou inverter a culpa responsabilizando somente a mulher é mais um gigantesco obstáculo não apenas para a punição justa do agressor, como também para garantir que a mulher irá receber a proteção e o apoio para que consiga romper esse ciclo de violência muitas vezes vividos solitariamente por dias, meses ou anos.”

“Essa prática de banalização, revitimização, culpabilização compõe muitas vezes a forma como a nossa mentalidade do século passado ainda está fortemente presente no  cotidiano a começar pelo Estado e por nós a sociedade.”

“Desde o começo deste ano, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) distribuiu 99 processos de feminicídio no estado. Desses, sete já foram julgados. Em 2016, foram abertos 132 processos com a tipificação de feminicídio. De acordo com a juíza da 2ª Vara Criminal de Santo André Teresa Cristina Cabral Santana Rodrigues dos Santos, a Lei do Feminicídio (Lei 13.104/15) trouxe visibilidade a este tipo de crime”, finaliza a nota.

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