17/05/2017 às 09h15min - Atualizada em 17/05/2017 às 09h15min

TRIPÉ DA BOA QUALIDADE DE VIDA

Exercício Físico Regular, Sono Revigorante e Alimentação Balanceada

Denis Modeneze
Denis Modeneze
Por:Dênis Marcelo Modeneze
Doutor em Educação Física na Área de Atividade Física, Adaptação e Saúde (UNICAMP)
 
Nas últimas décadas, tivemos um crescente aumento do interesse da população em geral, e principalmente daqueles com idade acima dos 60 anos, pela busca e manutenção de uma boa qualidade de vida. Acompanhando essa tendência as teorias específicas da medicina, educação física e da nutrição vem buscando estabelecer uma relação entre o sono, a prática regular de exercícios físicos e alimentação saudável com a promoção da saúde e do bem estar.


Didaticamente, estes conceitos podem ser entendidos através de uma analogia entre o corpo humano e uma simples casa.
Assim, o exercício físico que promove a quebra da homeostasia (equilíbrio e auto-regulação) do nosso sistema com a finalidade de reorganização e ganho de amplitude e função, ou seja a melhora da aptidão física, foi comparado a “bagunça” que fazemos em nossa casa para melhor procedimento da faxina, onde tiramos os móveis de lugar, enrolamos os tapetes, esvaziamos os armários e dispensas entre outras coisas para assim realizar a melhor limpeza possível. Porém, a prática correta e segura de exercícios físicos requer a aplicação de programas condizentes e específicos, onde deve-se levar em conta as limitações, capacidades e objetivos de cada indivíduo.

Continuando nossa analogia do corpo humano com uma simples casa a alimentação saudável foi comparada a “faxineira”, pois  é ela quem fará a restauração e renovação dos nossos tecidos, colaborando assim para a melhora do bem estar. Assim uma faxineira ruim não dará conta de limpar todos os cômodos da casa de forma eficiente. Conclui-se que de nada adianta desorganizar a casa e deixá-la preparada para receber uma boa faxina se a faxineira for fraca e sem habilidades. Da mesma maneira de nada adianta realizar exercícios físicos regulares seguindo os princípios da educação física, se a alimentação está insuficiente ou irregular.

Hábitos alimentares saudáveis fazem parte de estratégias para promoção da saúde, aspecto sustentado por estudos epidemiológicos que, durante pelo menos duas décadas, relacionaram dietas ricas em frutas, vegetais e cereais com a menor incidência de doenças crônicas não transmissíveis e a promoção da qualidade de vida.

A Organização Mundial de Saúde (WHO, 2003) recomenda a ingestão diária de pelo menos cinco porções, ou aproximadamente 40 gramas, de frutas e hortaliças. Já no Brasil, o Ministério da Saúde recomenda o consumo diário de três porções de frutas e três de legumes e hortaliças.

O terceiro fator do tripé da boa qualidade de vida é o sono. Quando dormimos o nosso organismo potencializa seus mecanismos de reconstrução das diversas células do nosso corpo, recarregando nossa energia e fortalecendo aquelas estruturas que foram estimuladas pela prática do exercício físico.

Voltando a analogia com a casa, o sono deve ser comparado com aquele momento em que a casa está completamente vazia, sem o trânsito de pessoas e animais que poderiam atrapalhar o desenvolvimento de uma boa faxina. O sono é uma função biológica fundamental na consolidação da memória, na visão binocular, na termo-regulação, na conservação e restauração da energia, e restauração do metabolismo energético cerebral. Devido a essas importantes funções, as perturbações do sono podem acarretar alterações significativas no funcionamento físico, ocupacional, cognitivo e social do indivíduo, além de comprometer substancialmente a qualidade de vida.

O sono normal varia ao longo do desenvolvimento humano quanto a duração, distribuição de estágios e ritmo circadiano. As variações na quantidade de sono são maiores durante a infância, decrescendo de 16 horas por dia, em média, nos primeiros dias de vida, para 14 horas ao final do primeiro mês e 12 horas no sexto mês de vida. Depois dessa idade o tempo de sono da criança diminui 30 minutos ao ano até os cinco anos. Na vida adulta decresce a quantidade e varia o ciclo do sono em função da idade e de fatores externos. Com o avanço da idade, ocorrem perdas na duração, manutenção e qualidade do sono. A dor, o uso de medicações e diferentes condições clínicas são exemplos de fatores que podem afetar a quantidade e a qualidade do sono, especialmente entre idosos, que são mais propensos a essas condições.

Finalizamos enfatizando a importância dos exercícios físicos, da boa alimentação e do sono reparador na melhora da qualidade de vida, através da otimização das capacidades físicas básicas necessárias para manter a independência e a auto-estima. Enaltecemos também a necessidade de sempre buscar conhecimentos adequados para atender os objetivos de cada um, sempre tendo na consciência que as teorias aqui apresentadas devem fazer parte de um bom programa de treinamento.

 
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